Mais do que “ensinar” uma receita para não cair em ‘fake news’, o letramento midiático deve ajudar o público a reconhecer as práticas do jornalismo de qualidade.

O letramento midiático é um processo CONTÍNUO, que fica mais forte quanto mais repertório os adolescentes tiverem. Por isso, a escola pode ajudar – e muito – se incluir em seu dia a dia ações como: apresentar aos alunos fontes variadas de informação, incentivá-los a acompanhar o noticiário e ajudá-los a compreender as etapas da produção jornalística.

Por Daniela Machado

Existem muitas iniciativas interessantes de letramento midiático mundo afora.

Algumas concentram-se em expor ao público as inconsistências de um texto mentiroso, a técnica por trás de uma foto manipulada ou os deslizes encontrados em um post ‘fake’. São ações bem-vindas e especialmente úteis neste momento em que a desinformação corre solta por aí.

Mas há quem vá além de escancarar o “lado negro da força”. Nesses casos, o letramento midiático busca também ressaltar as características e práticas do jornalismo de qualidade e incentivar o interesse pelo noticiário. Esse caminho pode parecer mais trabalhoso, mas ao meu ver é mais eficaz.

Isso porque uma pessoa que tenha a habilidade de reconhecer uma notícia falsa não necessariamente tem a mesma habilidade para buscar um conteúdo de qualidade na internet. Varrer a desinformação de nossas vidas não vai, por si só, trazer informação para ela.

Então, o que poderia ser feito? Atividades como a de comparar como uma mesma notícia foi tratada por diversos jornais ou sites, por exemplo, são um bom começo. Dessa maneira, os alunos podem, aos poucos, perceber:

  • qual o título mais fiel à informação noticiada;
  • quem caprichou mais no contexto;
  • quem tem as declarações mais claras e explicativas, ou seja, conseguiu acesso às melhores fontes;
  • qual publicação é mais transparente com o público sobre o caminho até chegar à notícia;
  • qual publicação é mais transparente sobre o que ainda NÃO se sabe sobre a notícia etc.

Refletir sobre a construção da notícia é essencial para que, além de reconhecer ‘fake news’, os jovens desenvolvam as habilidades para buscar veículos de comunicação sérios e fontes confiáveis de informação. E, quem sabe, a partir daí “tomem gosto” pelo noticiário nem sempre captado pelos algoritmos das redes sociais.

É por isso que o reZOOM tem duas frentes de trabalho: (1) atividades e jogos de letramento midiático alinhados à BNCC e (2) curadoria de notícias com linguagem e visual pensados especialmente para os adolescentes.


Daniela Machado é jornalista e cofundadora do reZOOM. Tem 20 anos de experiência como repórter e editora em importantes veículos de comunicação, como Reuters e Valor Econômico. 

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