A tecnologia abriu caminho para que todos sejamos um pouco jornalistas. Mas quais as responsabilidades acompanham esse papel? 

Por Vinícius Pinheiro

De onde eu estava conseguia ver apenas uma espessa coluna de fumaça, escondida no mar de prédios da região do Itaim, em São Paulo. Movido pela curiosidade de repórter, pensei em ir até o local para descobrir o que se passava, mas não foi necessário. O vídeo com as imagens de um incêndio no prédio quatro quadras à frente foi compartilhado em uma rede social. Felizmente não houve vítimas.

Aquelas imagens ficaram na minha cabeça ao longo daquele dia. Elas se misturaram às de incêndios passados que acompanhei desde que ingressei pela primeira vez em uma redação de jornal, 18 anos atrás. E dizem muito sobre as mudanças na forma como as pessoas consomem informação.

Num passado bem próximo, mas que olhando de hoje parece jurássico, as notícias percorriam um caminho mais longo, e relativamente previsível. Eram publicadas em jornais impressos (ou sites dos mesmos jornais) ou transmitidas no rádio ou pela televisão. Por trás da informação havia sempre a figura formal de um jornalista. Era dele a versão sobre os fatos descritos na reportagem impressa ou nas imagens do telejornal.

Esse “monopólio” foi quebrado pela internet e a popularização dos smartphones. Com um aparelho nas mãos e acesso à internet, qualquer um de nós é um jornalista em potencial. Esse admirável mundo novo trouxe inúmeras possibilidades e multiplicou o alcance da informação. A notícia sobre um incêndio, por exemplo, pode chegar ao Facebook ou ao WhatsApp antes de qualquer site jornalístico.

Todo esse poder também traz riscos, como revelou o fenômeno das “fake news”. Seja por ingenuidade ou com intenções ocultas, somos bombardeados diariamente com notícias sobre incêndios que nunca aconteceram. E o incêndio, aqui, é uma metáfora para qualquer tipo de informação incorreta ou fora de contexto. Pois já ficou comprovado que notícias falsas têm uma capacidade enorme de se espalhar rapidamente, como o fogo em uma mata virgem.

Não existe uma solução mágica para esse problema, e talvez seja bom que continue assim, já que qualquer forma de controle da informação tem se revelado desastrosa ao longo da história. A educação, sim, é um caminho viável. Para o reZOOM, a formação de cidadãos conscientes passa pelo “empoderamento” de quem precisa lidar com a informação. Isto é, todos nós, jornalistas de um mundo conectado.


Vinícius Pinheiro é jornalista e cofundador do reZOOM. Atua desde 2000 como repórter e editor nas áreas de economia e negócios, em veículos como Gazeta Mercantil, Agência Estado e Valor Econômico. É editor do site Netflista e autor dos romances “O Roteirista” (Rocco) e “Abandonado” (Geração).

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