Como fazer com que os alunos “tomem gosto” pelas notícias que explicam o atual momento do Brasil e do mundo? 

Temas da atualidade já estão presentes nas salas de aula, mas nem sempre de uma forma que conquiste mentes e corações da nova geração de leitores. É preciso buscar uma MANEIRA APETITOSA de apresentar assuntos como “o que está em jogo nas eleições” ou “por que se preocupar com a relação entre Trump e Putin”, entre tantos outros.

Por Daniela Machado

Tenho muito interesse em conhecer as diferentes formas com que as escolas apresentam o noticiário a seus alunos. Curiosidade profissional — já que este é um dos focos do meu trabalho à frente da plataforma reZOOM –, mas também pessoal — por perceber que, em muitos lugares, a abordagem pouco mudou em relação à minha adolescência, apesar de a tecnologia ter transformado praticamente tudo de lá pra cá.

A escola que frequentei dos sete aos 17 anos era assinante de uma variedade de jornais e revistas (de papel, claro) e éramos estimulados a pesquisar os temas definidos pelo professor (geralmente o de Língua Portuguesa ou História e Geografia), comparar como as notícias eram tratadas por diferentes veículos de comunicação e analisar as escolhas por trás de uma foto ou título. Também formávamos um grupo que ajudava a escrever, fotografar e diagramar reportagens para um jornalzinho do próprio colégio.

Eram atividades que tinham sua importância, mas que estavam longe de cativar nosso interesse genuíno pelas notícias. Em raros momentos a ‘OBRIGAÇÃO de estar bem informada’ deu lugar ao ‘PRAZER de estar bem informada’ — e isso só acontecia nas aulas de um determinado professor, que tinha um jeito apaixonado de ler as notícias, colocá-las em contexto e nos mostrar “o que eu tenho com isso”.

Pausa na cena dos anos 1990. Zoom no que acontece em uma escola privada de São Paulo em 2018:

Pedi para uma amiga investigar qual é o contato de seus filhos (um casal de gêmeos) de 15 anos com notícias em sala de aula. O que ela relatou: o irmão adora tudo o que está relacionado a atualidades; a irmã detesta. O irmão considera as discussões sobre notícias interessantíssimas; a irmã acha tudo muito chato. O irmão sai da aula com vontade de se informar mais; a irmã fica torcendo para a aula acabar o quanto antes para se livrar logo daquilo.

Minha amiga tinha que investigar mais! Como irmãos com o mesmo contexto familiar, da mesma idade, frequentando a mesma escola e a mesma série, com o mesmo grupo de amigos e influências podem ter experiências tão distintas com notícias? A resposta está com os professores.

Irmão e irmã, apesar de tantas coisas em comum, têm professores diferentes que tratam das atualidades. No caso dele, o professor é super animado, varia bastante as atividades, dá espaço para que os alunos atuem como repórteres e mostra as conexões entre uma notícia e a vida dos alunos. Ou seja, dá sentido à informação. Na classe da irmã o noticiário é apresentado por uma professora que faz sempre o mesmo tipo de atividade (comenta a notícia de um único site) e dá pouco espaço para a participação dos alunos.

Ou seja, a experiência não é muito diferente da que eu tive. Apesar de o volume de informações a que temos acesso hoje ser infinitamente maior e a maneira como se consome notícia ter mudado drasticamente, o professor faz a diferença nesse processo! É ele que pode enriquecer o contato com o noticiário, apoiado pelos recursos adequados e preparados especialmente para o público mais jovem.


Daniela Machado é jornalista e cofundadora do reZOOM. Tem 20 anos de experiência como repórter e editora em importantes veículos de comunicação, como Reuters e Valor Econômico. 

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